sexta-feira, 17 de março de 2017

Analise do artigo de Mauro Meister, COSMOVISÃO: DO CONCEITO À PRÁTICA NA ESCOLA CRISTÃ.

Mauro Meister graduou-se pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary, nos EUA, e doutorado (Ph.D) em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. Foi professor de Antigo Testamento no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, em São Paulo e na Escola Superior de Teologia (Mackenzie), atua hoje como diretor do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper. Neste artigo, ele defende a aplicação da cosmovisão bíblica a pedagogia do educador, a missão da escola e no currículo escolar. Segundo ele, a visão de mundo passada pela Escritura é teo-referente e aplicável a todas as pessoas, culturas e todas as épocas.
Meister se preocupa em definir o significado de cosmovisão como; o compromisso fundamental do coração fundamentado em pressuposições básicas da realidade que provê o fundamento do viver e do agir do homem. Portanto, a cosmovisão determina todo o entendimento que um individuo tem com relação à ciência e a educação, que não são neutras. Todos os educadores são motivados por essas razões fundamentais do coração que os dirige. O educador cristão deve ter uma cosmovisão bíblica, pois, segundo a própria Escritura, Ela é útil para o ensino, para a correção, para repreensão e educação na justiça (2Tm 3.16). A Bíblia não afirma em nenhum momento que o seu ensino está restrito apenas ao campo religioso, pelo contrario, como a continuação do texto onde o versículo acima citado está inserido afirma, Ela é proveitosa para a instrução do homem com o objetivo de torná-lo apto para toda boa obra. Portanto, para o educador cristão é preciso consciência e coerência na aplicação da cosmovisão bíblica a educação.
Esse é o grande desafio do educador cristão, pois toda a estrutura de aprendizado que recebeu foi humanista e construtivista. Mas, como cristão ele precisa implantar uma cosmovisão que emana da Bíblia e não do pensamento onde o homem é autônomo na construção do seu conhecimento. E para se implantar uma cosmovisão bíblica solida, Meister avalia algumas áreas essenciais para que essa implantação aconteça. Segundo ele, só haverá um conteúdo de real relevância quando o pedagogo cristão aplicar sua cosmovisão no currículo e no ambiente escolar. A visão bíblica de ensino tem como prioridade o amor a Deus, esse é o primeiro e grande mandamento, portanto, a missão da escola cristã é instruir os seus alunos dentro dessa perspectiva. A excelência da educação deve estar firmada em uma educação teísta e teo-referente, tendo como fundamento a existência de um Deus criador e redentor, o qual deve ser ouvido atentamente em sua revelação nas Escrituras, na criação e na providencia.
A própria legislação brasileira, no que se refere à educação, reconhece a existência de comunidades que pensam a educação de maneira própria, de acordo com sua cosmovisão. Isso é o que o artigo 20. III da Lei de Diretriz e Base da Educação Nacional rege.                   
Portanto, a escola cristã precisa ter o seu próprio currículo. Mas para que isso aconteça, a escola necessita observar a sua missão, pois o currículo é nada mais que a missão pratica. É evidente que não se encontra nas Escrituras um currículo pronto, contudo, os princípios de sabedoria necessários para o desenvolvimento do mandato cultural são encontrados na mesma. Foi justamente essa visão de mundo cristão que permitiu que os primeiros passos da ciência moderna fossem dados.
Como o conhecimento depende da revelação geral (criação) e especifica (Escritura), o currículo deve contemplar a unificação e a interação dessas fontes produzindo assim no aluno a capacidade de ver o mundo com as lentes bíblicas. No entanto, é preciso ter muito cuidado para não incorrer no erro de se criar um currículo paralelo, separado do conhecimento bíblico, achando ser um tipo de integração, Meister nos traz uma lista produzida por Marta Franco Dias para evitar esse dualismo que cria uma ilusão de integração.
(1) o uso de analogias, metáforas e alegorias bíblicas relacionadas ao conteúdo de uma disciplina – se queremos desenvolver uma cosmovisão bíblica, precisamos começar por respeitar as Escrituras e fazer uma leitura consciente de seu conteúdo, usando todas as regras acadêmicas de interpretação bíblica, a qual é também uma ciência; (2) enfatizar os elementos externos sem a devida preocupação de que isto seja realmente proveitoso na formação da visão de mundo dos alunos, como contratar somente professores cristãos sem que os mesmos sejam testados nas suas habilidades acadêmicas e de integração bíblica; (3) a negação e exclusão imediata de tudo que é não bíblico, como, por exemplo, não estudar a evolução darwinista porque contradiz nossos pressupostos bíblicos; (4) embora o ensino do caráter seja fundamental para a escola cristã, ensinar traços de caráter por si só não é integração bíblica; (5) evangelização não é integração bíblica; (6) também a personificação – por exemplo, ter a vida de Jesus como modelo – não é integração e (7) escolher uma série de princípios e desenvolvê-los durante o ano escolar também não é integração.      
Não é a ilusão de uma integração que produzirá o real conhecimento de mundo na mente do aluno, mas a confiança do professor na verdade que emana da Escritura aplicada ao mundo que é passada para o aluno, o professor  precisa ser cristão e ter uma cosmovisão cristã (bíblica). Todo o processo de implantação da cosmovisão bíblica ao ensino é de extrema importância e para que isso seja real nas nossas escolas é preciso que as igrejas comessem a entender que a educação deve ter como fundamento a Escritura. Vivemos dias onde existe uma dicotomia no que se refere igreja e mundo, educação religiosa e secular. Mauro aplica de maneira valiosa a questão de que o ensino bíblico não está restrito apenas ao ensino religioso, a Escritura é a verdade suprema e aplicável a todas as áreas da humanidade, por isso, a igreja não deve se acanhar em promover a educação com base na Escritura e formar uma nova geração fundamentada nesta realidade. Quando afirmamos que a igreja deve intender o seu papel nessa situação, estamos elencando o papel da igreja na formação dos cristãos, que são os educadores que lecionam nas escolas.
Por mais que os professores tenham recebido uma educação humanista e construtivista, o verdadeiro cristão é regenerado a partir da Verdade e essa Verdade é o fundamento de toda a sua construção de mundo, ele depende dEla para todas as suas compreensões de si mesmo, do mundo a sua volta e do próprio Deus. A cosmovisão do autentico cristão é alicerçada na ação do Espirito pela Palavra e na Palavra, consequentemente, não será uma dificuldade para esse cristão deixar seus conhecimentos adquiridos ou aproveitar e adapta-los, aquilo que puder a realidade bíblica. Então, a partir daí começar a propagar o verdadeiro conhecimento de mundo num mundo que carece de conhecimento autentico.
O que falta muitas vezes na vida desses professores é a convicção no que realmente creem e a falta de motivação pelo estudo adequado das verdades. Acomodam-se naquilo que lhes foi passado e não buscam na Escritura, que deve ser a autoridade final sobre questões elementares da vida humana, a resposta final em todos assuntos. O que leva esses professores a viverem essa acomodação é uma ordem de fatores que podem ser até mesmo compreendido. A pressão que esses profissionais vivem é algo fora do comum, a carga horaria de trabalho para se ter um salario adequado é desumana, além do constrangimento em se defender diante da pedagogia moderna com relação ao método e os pressupostos que influenciam e determinam seu ensino, pois vivemos um momento delicado no que se refere ao cristianismo no mundo moderno. Professores que são mal formados, sem uma base solida e com grandes duvidas na área educacional se curvam a autoridade da pedagogia moderna, é justamente ai que a igreja deve entrar. Infelizmente a realidade das igrejas hoje mostra um total descaso com a instrução e a preparação dos seus membros nas doutrinas elementares e na construção de um pensamento teológico solido. Se a partir das igrejas houver um encorajamento e uma dedicação para instruir os seus membros e mostra-los que a Escritura não é apenas um amuleto, ou um livro que deve ser aberto no domingo ou em momentos “espirituais” do dia a dia para serem abençoados, mas, que a Escritura é o fundamento pelo qual o mundo deve ser visto e interpretado as mudanças dentro da educação cristã serão visíveis.   

Não existe outra maneira de se implantar essa cosmovisão bíblica dentro das instituições cristã que não passe pela educação da igreja aos seus membros. Tudo que Mauro Meister escreveu nesse artigo é de grande importância e deve ser discutido e implantado na vida de cada educador cristão. Mas antes de ser um educador cristão, ele é um membro da igreja de Cristo e é justamente por isso que tudo começa na igreja. A construção de uma cosmovisão bíblica é papel da igreja na vida de seus membros, posteriormente, o pensamento verdadeiro e bíblico de mundo pode e deve ser passado para o mundo, porém, se o educador cristão se mostrar inseguro com relação ao que realmente crer será engolido pelo modelo atual de educação.       

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