Educação Cristã: Uma
proposta para hoje. por Gilberto Loula Dourado Filho
A
educação é o ato de educar, parece obvio, contudo se não compreendermos o real significado
de educar teremos grandes problemas na aplicação da educação. Educar é a
transmissão de valores, hábitos e costumes que formam um individuo dentro de
uma sociedade. Podemos dizer que a educação é a socialização do individuo em
uma cultura especifica. A grande questão é se existe uma sociedade ideal ou uma
cultura com valores adequados e verdadeiros para a vida de uma comunidade. Será
que existe um padrão que seja benéfico, que tenha um conjunto de valores
(cultura) que contemple a necessidade de todos os indivíduos de uma sociedade
especifica?
Partindo
do pressuposto que educar é formar o individuo para se viver em sociedade,
entendemos a luz da Verdade, que todo o processo educacional que contempla uma
educação cristã para a atualidade deve obrigatoriamente preparar o homem para
agir de forma adequada na sociedade em que vive.
O conceito de educação na
modernidade está firmado numa gama de teorias que não sabemos ao certo onde
existe, ou se existe, fundamento para sua visão pedagógica. A visão relativista
retirou os absolutos e criou uma ideia de educação firmada no nada, pois, sem
ter uma determinação concreta do que é certo e errado não se pode definir como
uma sociedade deve caminhar ou educa-la para essa caminhada. O fundamento da
educação pós-moderna é relativo, ou seja, não tem um fundamento, é um conjunto
de teorias que podem a qualquer momento mudar ou se adaptar a moda atual. A
educação cristã não pode e nem deve se curvar diante desse conceito equivocado,
existe um padrão estabelecido que determina o que é a Verdade e o que é a
mentira, o que é certo e o que é errado. A grande derrota da modernidade é
assumir o conceito de que a subjetividade humana pode definir o que é melhor
para ela. Pois a humanidade decaída não tem como definir o que é melhor para si
mesmo por causa da sua condição, eles se
tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração
insensato[1]. O conhecimento de
Deus em suas mentes foi obscurecido pelo pecado, somente trazendo sobre a vida
deles a indesculpabilidade por não darem gloria a Deus diante das suas obras na
criação. O grande problema da humanidade é tentar entender o mundo partindo deles
mesmos e não de Deus, quando não se parte da Verdade não se pode chegar a
conclusões adequadas. Veja o que Calvino afirma ao comentar esse trecho de
romanos:
Renunciaram a verdade de Deus e se
voltaram para a vaidade de seus próprios raciocínios, os quais são
completamente indistinguíveis e impermanentes. Seu coração insensível, sendo
assim entenebrecido, não pode entender nada corretamente, senão que se acha
precipitado em erro e falsidade. Esta é a injustiça [da raça humana], ou seja:
que a semente do genuíno conhecimento foi imediatamente sufocada por sua
impiedade antes que pudesse medrar e amadurecer.[2]
A
continuidade do texto nos informa que a humanidade caída se inculca por sábia,
quando na verdade são loucos por rejeitarem a verdade de Deus. Portanto, o
cristão não pode de maneira alguma anuir a esse equivoco, é partindo da
Escritura que devemos compreender o mundo a nossa volta, é partindo dela que
somos educados. A educação cristã precisa necessariamente começar com a certeza
do que o próprio Deus determinou na Sua santa Palavra. Sendo a palavra
infalível e a verdade suprema, o homem deve a partir dela entender todas as
relações sociais e educacionais, todas as alegações verdadeiras devem se
conformar com ela e não o oposto. As
Escrituras, portanto, são o modelo no qual devemos testar todas as outras
alegações da verdade.[3] A
autoridade é a Escritura, ela é a verdade Jo 17.17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Portanto, não
se pode adequar a Escritura a verdadeiras alegações, mas, para que tais
alegações sejam verdadeiras, precisam obrigatoriamente estar de acordo com
aquilo que a Escritura afirma. Um povo que aplicou esse conceito de forma
exemplar foram os puritanos, eles aplicaram à educação a verdade de Deus, a
verdade que emana das Escrituras era o fundamento de toda e qualquer verdade. Podemos
afirmar, que os seus grandes feitos na área educacional era reflexo desse
entendimento, em sua autobiografia Richard Baxter afirmava acreditar que a educação é o meio ordinário de Deus para
comunicação de sua graça, tanto quanto a pregação da Palavra não devia ser
colocada em oposição ao Espirito. Para eles a educação não estava
dissociada da vida cristã como nos dias de hoje, onde se faz uma separação
entre a educação acadêmica e a educação cristã.
É
de suma importância, que o cristão tenha um objetivo concreto no que diz
respeito à educação. A meta do aprendizado deve ser o proposito pelo qual Deus
criou o homem. Quando olhamos para os puritanos vemos com clareza que o
objetivo supremo de toda a educação para eles era levar o homem ao seu mais
sublime e alto proposito, glorificar a Deus. Isso pode ser visto nas
declarações e nas regras estabelecidas em suas universidades, como por exemplo,
uma regra estabelecida na faculdade de Harverd era:
Que todo estudante seja claramente
instruído e seriamente forçado a considerar bem que o principal fim da sua vida
e de seus estudos é conhecer a Deus e a Jesus Cristo, que é a vida eterna, João
17:3; e, portanto, pôr a Cristo na base, como único fundamento de todo o
conhecimento e sã doutrina.[4]
Como
podemos observar, a meta da educação cristã é tornar o homem conhecedor de Deus
e do Senhor Jesus Cristo, o único caminho do real conhecimento do Pai, Cristo é
à base da educação. A educação cristã hoje precisa contemplar essa realidade de
ensino. É muito triste vermos na atualidade escolas desprezarem e até mesmo
ridicularizarem esse principio, quando vemos escolas seculares fazendo isso
entendemos, pois estão distantes e são inimigos do verdadeiro conhecimento,
porém, quando olhamos para escolas que se afirmam confessionais abandonando o
principio bíblico para assimilar conceitos que são formulados sob um
pressuposto anticristão, ficamos chocados. Tais escolas desconsideram que a
visão pós-moderna é totalmente antagônica a verdade bíblica e se distancia cada
vez mais de Deus centrando-se na perspectiva humana eternamente mutante.[5] Depois de mostrar
que as dificuldades econômicas e os conflitos do século 20 trouxeram grande
pessimismo a sociedade MacArthur afirma:
As cosmovisões pós-modernas mais
depreciativas começam a ganhar ampla aceitação. A pedra fundamental dessas
cosmovisões passa a ser a não existência da verdade objetiva. Nessa cosmovisão
a “verdade” é redefinida para ser uma metanarrativa (isto é, um modelo
explanatório completo) que procura organizar o fluxo de forças sensoriais que
um individuo recebe todos os dias.[6]
A educação
verdadeiramente cristã pode abençoar o mundo, o objetivo primeiro do anuncio da
Escritura é a convocação a salvação, o mundo perdido necessita de Cristo,
precisa de salvação e ela só pode ser oferecida em Cristo, este é o maior e
incomparável beneficio fornecido ao homem, (Hb 2.3) “como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação?”. Contudo a Lei do Senhor pode trazer até
mesmo para o mundo perdido as diretrizes que norteiam de forma adequada à
sociedade, para todos os homens, em
termos gerais, a Lei é uma revelação do caráter e da vontade de Deus, um padrão
de excelência moral e uma norma para a regulação das ações.[7] É
incomparavelmente benéfica à visão bíblica para o mundo, negligenciar os
princípios bíblicos na educação tem produzido uma sociedade sem padrões morais
adequados e fadada ao fracasso e destruição.
A
educação hoje precisa ser dirigida urgentemente pelo padrão divino, a Escritura
deve ser o manual pratico da educação na atualidade. Os cristãos devem entender
a responsabilidade que tem de proporcionar a humanidade este grande beneficio.
Tratar a Bíblia como o padrão e a verdade pela qual todas as outras alegações
devem ser investigadas é de suma importância no beneficio da humanidade. Não
esquecendo da responsabilidade dos pais crentes em educar os seus filhos dessa
forma, os professores crentes também devem obrigatoriamente entender estes
princípios. Um bom professor, então, deve
ter um compromisso supremo de sempre falar o que é verdadeiro, edificante e
sábio.[8]
Olhando sempre para a Escritura entendendo que Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, 2 Tm 3.16.
[1] Romanos 1.21 nos mostra a condição
do homem decaído, onde não pode entender o mundo, nem a ele mesmo por estar
distante de Deus e do conceito correto acerca dEle.
[2] Calvino, João. Comentário à
Sagrada Escritura, exposição de Romanos; São Paulo – SP: Edições Paracletos,
1997. p. 67.
[3] MacArthur, John. Pense
Biblicamente; recuperando a visão cristã de mundo; São Paulo – SP: Editora
Hagnos, 2005. p. 25.
[4] Ryken, Leland. Santo no Mundo; São
José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013. p. 270.
[5] MacArthur. p.223.
[6] Ibdem, p. 373.
[7] Comentário do capitulo XIX (DA LEI
DE DEUS) seção VI e VII. Confissão de Fé Westminster comentada por A.A. Hodge;
Editora Os Puritanos: 2010. p. 348.
[8] MacArthur. p. 384.
Excelente texto.
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