sexta-feira, 17 de março de 2017

Analise do artigo de Mauro Meister, COSMOVISÃO: DO CONCEITO À PRÁTICA NA ESCOLA CRISTÃ.

Mauro Meister graduou-se pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary, nos EUA, e doutorado (Ph.D) em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. Foi professor de Antigo Testamento no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, em São Paulo e na Escola Superior de Teologia (Mackenzie), atua hoje como diretor do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper. Neste artigo, ele defende a aplicação da cosmovisão bíblica a pedagogia do educador, a missão da escola e no currículo escolar. Segundo ele, a visão de mundo passada pela Escritura é teo-referente e aplicável a todas as pessoas, culturas e todas as épocas.
Meister se preocupa em definir o significado de cosmovisão como; o compromisso fundamental do coração fundamentado em pressuposições básicas da realidade que provê o fundamento do viver e do agir do homem. Portanto, a cosmovisão determina todo o entendimento que um individuo tem com relação à ciência e a educação, que não são neutras. Todos os educadores são motivados por essas razões fundamentais do coração que os dirige. O educador cristão deve ter uma cosmovisão bíblica, pois, segundo a própria Escritura, Ela é útil para o ensino, para a correção, para repreensão e educação na justiça (2Tm 3.16). A Bíblia não afirma em nenhum momento que o seu ensino está restrito apenas ao campo religioso, pelo contrario, como a continuação do texto onde o versículo acima citado está inserido afirma, Ela é proveitosa para a instrução do homem com o objetivo de torná-lo apto para toda boa obra. Portanto, para o educador cristão é preciso consciência e coerência na aplicação da cosmovisão bíblica a educação.
Esse é o grande desafio do educador cristão, pois toda a estrutura de aprendizado que recebeu foi humanista e construtivista. Mas, como cristão ele precisa implantar uma cosmovisão que emana da Bíblia e não do pensamento onde o homem é autônomo na construção do seu conhecimento. E para se implantar uma cosmovisão bíblica solida, Meister avalia algumas áreas essenciais para que essa implantação aconteça. Segundo ele, só haverá um conteúdo de real relevância quando o pedagogo cristão aplicar sua cosmovisão no currículo e no ambiente escolar. A visão bíblica de ensino tem como prioridade o amor a Deus, esse é o primeiro e grande mandamento, portanto, a missão da escola cristã é instruir os seus alunos dentro dessa perspectiva. A excelência da educação deve estar firmada em uma educação teísta e teo-referente, tendo como fundamento a existência de um Deus criador e redentor, o qual deve ser ouvido atentamente em sua revelação nas Escrituras, na criação e na providencia.
A própria legislação brasileira, no que se refere à educação, reconhece a existência de comunidades que pensam a educação de maneira própria, de acordo com sua cosmovisão. Isso é o que o artigo 20. III da Lei de Diretriz e Base da Educação Nacional rege.                   
Portanto, a escola cristã precisa ter o seu próprio currículo. Mas para que isso aconteça, a escola necessita observar a sua missão, pois o currículo é nada mais que a missão pratica. É evidente que não se encontra nas Escrituras um currículo pronto, contudo, os princípios de sabedoria necessários para o desenvolvimento do mandato cultural são encontrados na mesma. Foi justamente essa visão de mundo cristão que permitiu que os primeiros passos da ciência moderna fossem dados.
Como o conhecimento depende da revelação geral (criação) e especifica (Escritura), o currículo deve contemplar a unificação e a interação dessas fontes produzindo assim no aluno a capacidade de ver o mundo com as lentes bíblicas. No entanto, é preciso ter muito cuidado para não incorrer no erro de se criar um currículo paralelo, separado do conhecimento bíblico, achando ser um tipo de integração, Meister nos traz uma lista produzida por Marta Franco Dias para evitar esse dualismo que cria uma ilusão de integração.
(1) o uso de analogias, metáforas e alegorias bíblicas relacionadas ao conteúdo de uma disciplina – se queremos desenvolver uma cosmovisão bíblica, precisamos começar por respeitar as Escrituras e fazer uma leitura consciente de seu conteúdo, usando todas as regras acadêmicas de interpretação bíblica, a qual é também uma ciência; (2) enfatizar os elementos externos sem a devida preocupação de que isto seja realmente proveitoso na formação da visão de mundo dos alunos, como contratar somente professores cristãos sem que os mesmos sejam testados nas suas habilidades acadêmicas e de integração bíblica; (3) a negação e exclusão imediata de tudo que é não bíblico, como, por exemplo, não estudar a evolução darwinista porque contradiz nossos pressupostos bíblicos; (4) embora o ensino do caráter seja fundamental para a escola cristã, ensinar traços de caráter por si só não é integração bíblica; (5) evangelização não é integração bíblica; (6) também a personificação – por exemplo, ter a vida de Jesus como modelo – não é integração e (7) escolher uma série de princípios e desenvolvê-los durante o ano escolar também não é integração.      
Não é a ilusão de uma integração que produzirá o real conhecimento de mundo na mente do aluno, mas a confiança do professor na verdade que emana da Escritura aplicada ao mundo que é passada para o aluno, o professor  precisa ser cristão e ter uma cosmovisão cristã (bíblica). Todo o processo de implantação da cosmovisão bíblica ao ensino é de extrema importância e para que isso seja real nas nossas escolas é preciso que as igrejas comessem a entender que a educação deve ter como fundamento a Escritura. Vivemos dias onde existe uma dicotomia no que se refere igreja e mundo, educação religiosa e secular. Mauro aplica de maneira valiosa a questão de que o ensino bíblico não está restrito apenas ao ensino religioso, a Escritura é a verdade suprema e aplicável a todas as áreas da humanidade, por isso, a igreja não deve se acanhar em promover a educação com base na Escritura e formar uma nova geração fundamentada nesta realidade. Quando afirmamos que a igreja deve intender o seu papel nessa situação, estamos elencando o papel da igreja na formação dos cristãos, que são os educadores que lecionam nas escolas.
Por mais que os professores tenham recebido uma educação humanista e construtivista, o verdadeiro cristão é regenerado a partir da Verdade e essa Verdade é o fundamento de toda a sua construção de mundo, ele depende dEla para todas as suas compreensões de si mesmo, do mundo a sua volta e do próprio Deus. A cosmovisão do autentico cristão é alicerçada na ação do Espirito pela Palavra e na Palavra, consequentemente, não será uma dificuldade para esse cristão deixar seus conhecimentos adquiridos ou aproveitar e adapta-los, aquilo que puder a realidade bíblica. Então, a partir daí começar a propagar o verdadeiro conhecimento de mundo num mundo que carece de conhecimento autentico.
O que falta muitas vezes na vida desses professores é a convicção no que realmente creem e a falta de motivação pelo estudo adequado das verdades. Acomodam-se naquilo que lhes foi passado e não buscam na Escritura, que deve ser a autoridade final sobre questões elementares da vida humana, a resposta final em todos assuntos. O que leva esses professores a viverem essa acomodação é uma ordem de fatores que podem ser até mesmo compreendido. A pressão que esses profissionais vivem é algo fora do comum, a carga horaria de trabalho para se ter um salario adequado é desumana, além do constrangimento em se defender diante da pedagogia moderna com relação ao método e os pressupostos que influenciam e determinam seu ensino, pois vivemos um momento delicado no que se refere ao cristianismo no mundo moderno. Professores que são mal formados, sem uma base solida e com grandes duvidas na área educacional se curvam a autoridade da pedagogia moderna, é justamente ai que a igreja deve entrar. Infelizmente a realidade das igrejas hoje mostra um total descaso com a instrução e a preparação dos seus membros nas doutrinas elementares e na construção de um pensamento teológico solido. Se a partir das igrejas houver um encorajamento e uma dedicação para instruir os seus membros e mostra-los que a Escritura não é apenas um amuleto, ou um livro que deve ser aberto no domingo ou em momentos “espirituais” do dia a dia para serem abençoados, mas, que a Escritura é o fundamento pelo qual o mundo deve ser visto e interpretado as mudanças dentro da educação cristã serão visíveis.   

Não existe outra maneira de se implantar essa cosmovisão bíblica dentro das instituições cristã que não passe pela educação da igreja aos seus membros. Tudo que Mauro Meister escreveu nesse artigo é de grande importância e deve ser discutido e implantado na vida de cada educador cristão. Mas antes de ser um educador cristão, ele é um membro da igreja de Cristo e é justamente por isso que tudo começa na igreja. A construção de uma cosmovisão bíblica é papel da igreja na vida de seus membros, posteriormente, o pensamento verdadeiro e bíblico de mundo pode e deve ser passado para o mundo, porém, se o educador cristão se mostrar inseguro com relação ao que realmente crer será engolido pelo modelo atual de educação.       

Educação Cristã: Uma proposta para hoje.

                                                              Educação Cristã: Uma proposta para hoje.                                                            por Gilberto Loula Dourado Filho
            A educação é o ato de educar, parece obvio, contudo se não compreendermos o real significado de educar teremos grandes problemas na aplicação da educação. Educar é a transmissão de valores, hábitos e costumes que formam um individuo dentro de uma sociedade. Podemos dizer que a educação é a socialização do individuo em uma cultura especifica. A grande questão é se existe uma sociedade ideal ou uma cultura com valores adequados e verdadeiros para a vida de uma comunidade. Será que existe um padrão que seja benéfico, que tenha um conjunto de valores (cultura) que contemple a necessidade de todos os indivíduos de uma sociedade especifica?
            Partindo do pressuposto que educar é formar o individuo para se viver em sociedade, entendemos a luz da Verdade, que todo o processo educacional que contempla uma educação cristã para a atualidade deve obrigatoriamente preparar o homem para agir de forma adequada na sociedade em que vive.     
O conceito de educação na modernidade está firmado numa gama de teorias que não sabemos ao certo onde existe, ou se existe, fundamento para sua visão pedagógica. A visão relativista retirou os absolutos e criou uma ideia de educação firmada no nada, pois, sem ter uma determinação concreta do que é certo e errado não se pode definir como uma sociedade deve caminhar ou educa-la para essa caminhada. O fundamento da educação pós-moderna é relativo, ou seja, não tem um fundamento, é um conjunto de teorias que podem a qualquer momento mudar ou se adaptar a moda atual. A educação cristã não pode e nem deve se curvar diante desse conceito equivocado, existe um padrão estabelecido que determina o que é a Verdade e o que é a mentira, o que é certo e o que é errado. A grande derrota da modernidade é assumir o conceito de que a subjetividade humana pode definir o que é melhor para ela. Pois a humanidade decaída não tem como definir o que é melhor para si mesmo por causa da sua condição, eles se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato[1]. O conhecimento de Deus em suas mentes foi obscurecido pelo pecado, somente trazendo sobre a vida deles a indesculpabilidade por não darem gloria a Deus diante das suas obras na criação. O grande problema da humanidade é tentar entender o mundo partindo deles mesmos e não de Deus, quando não se parte da Verdade não se pode chegar a conclusões adequadas. Veja o que Calvino afirma ao comentar esse trecho de romanos:
Renunciaram a verdade de Deus e se voltaram para a vaidade de seus próprios raciocínios, os quais são completamente indistinguíveis e impermanentes. Seu coração insensível, sendo assim entenebrecido, não pode entender nada corretamente, senão que se acha precipitado em erro e falsidade. Esta é a injustiça [da raça humana], ou seja: que a semente do genuíno conhecimento foi imediatamente sufocada por sua impiedade antes que pudesse medrar e amadurecer.[2] 
            A continuidade do texto nos informa que a humanidade caída se inculca por sábia, quando na verdade são loucos por rejeitarem a verdade de Deus. Portanto, o cristão não pode de maneira alguma anuir a esse equivoco, é partindo da Escritura que devemos compreender o mundo a nossa volta, é partindo dela que somos educados. A educação cristã precisa necessariamente começar com a certeza do que o próprio Deus determinou na Sua santa Palavra. Sendo a palavra infalível e a verdade suprema, o homem deve a partir dela entender todas as relações sociais e educacionais, todas as alegações verdadeiras devem se conformar com ela e não o oposto. As Escrituras, portanto, são o modelo no qual devemos testar todas as outras alegações da verdade.[3] A autoridade é a Escritura, ela é a verdade Jo 17.17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Portanto, não se pode adequar a Escritura a verdadeiras alegações, mas, para que tais alegações sejam verdadeiras, precisam obrigatoriamente estar de acordo com aquilo que a Escritura afirma. Um povo que aplicou esse conceito de forma exemplar foram os puritanos, eles aplicaram à educação a verdade de Deus, a verdade que emana das Escrituras era o fundamento de toda e qualquer verdade. Podemos afirmar, que os seus grandes feitos na área educacional era reflexo desse entendimento, em sua autobiografia Richard Baxter afirmava acreditar que a educação é o meio ordinário de Deus para comunicação de sua graça, tanto quanto a pregação da Palavra não devia ser colocada em oposição ao Espirito. Para eles a educação não estava dissociada da vida cristã como nos dias de hoje, onde se faz uma separação entre a educação acadêmica e a educação cristã.
            É de suma importância, que o cristão tenha um objetivo concreto no que diz respeito à educação. A meta do aprendizado deve ser o proposito pelo qual Deus criou o homem. Quando olhamos para os puritanos vemos com clareza que o objetivo supremo de toda a educação para eles era levar o homem ao seu mais sublime e alto proposito, glorificar a Deus. Isso pode ser visto nas declarações e nas regras estabelecidas em suas universidades, como por exemplo, uma regra estabelecida na faculdade de Harverd era:
Que todo estudante seja claramente instruído e seriamente forçado a considerar bem que o principal fim da sua vida e de seus estudos é conhecer a Deus e a Jesus Cristo, que é a vida eterna, João 17:3; e, portanto, pôr a Cristo na base, como único fundamento de todo o conhecimento e sã doutrina.[4]
            Como podemos observar, a meta da educação cristã é tornar o homem conhecedor de Deus e do Senhor Jesus Cristo, o único caminho do real conhecimento do Pai, Cristo é à base da educação. A educação cristã hoje precisa contemplar essa realidade de ensino. É muito triste vermos na atualidade escolas desprezarem e até mesmo ridicularizarem esse principio, quando vemos escolas seculares fazendo isso entendemos, pois estão distantes e são inimigos do verdadeiro conhecimento, porém, quando olhamos para escolas que se afirmam confessionais abandonando o principio bíblico para assimilar conceitos que são formulados sob um pressuposto anticristão, ficamos chocados. Tais escolas desconsideram que a visão pós-moderna é totalmente antagônica a verdade bíblica e se distancia cada vez mais de Deus centrando-se na perspectiva humana eternamente mutante.[5] Depois de mostrar que as dificuldades econômicas e os conflitos do século 20 trouxeram grande pessimismo a sociedade MacArthur afirma:
As cosmovisões pós-modernas mais depreciativas começam a ganhar ampla aceitação. A pedra fundamental dessas cosmovisões passa a ser a não existência da verdade objetiva. Nessa cosmovisão a “verdade” é redefinida para ser uma metanarrativa (isto é, um modelo explanatório completo) que procura organizar o fluxo de forças sensoriais que um individuo recebe todos os dias.[6]
            A educação verdadeiramente cristã pode abençoar o mundo, o objetivo primeiro do anuncio da Escritura é a convocação a salvação, o mundo perdido necessita de Cristo, precisa de salvação e ela só pode ser oferecida em Cristo, este é o maior e incomparável beneficio fornecido ao homem, (Hb 2.3) “como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?”. Contudo a Lei do Senhor pode trazer até mesmo para o mundo perdido as diretrizes que norteiam de forma adequada à sociedade, para todos os homens, em termos gerais, a Lei é uma revelação do caráter e da vontade de Deus, um padrão de excelência moral e uma norma para a regulação das ações.[7] É incomparavelmente benéfica à visão bíblica para o mundo, negligenciar os princípios bíblicos na educação tem produzido uma sociedade sem padrões morais adequados e fadada ao fracasso e destruição.
            A educação hoje precisa ser dirigida urgentemente pelo padrão divino, a Escritura deve ser o manual pratico da educação na atualidade. Os cristãos devem entender a responsabilidade que tem de proporcionar a humanidade este grande beneficio. Tratar a Bíblia como o padrão e a verdade pela qual todas as outras alegações devem ser investigadas é de suma importância no beneficio da humanidade. Não esquecendo da responsabilidade dos pais crentes em educar os seus filhos dessa forma, os professores crentes também devem obrigatoriamente entender estes princípios. Um bom professor, então, deve ter um compromisso supremo de sempre falar o que é verdadeiro, edificante e sábio.[8] Olhando sempre para a Escritura entendendo que Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, 2 Tm 3.16.
               



[1] Romanos 1.21 nos mostra a condição do homem decaído, onde não pode entender o mundo, nem a ele mesmo por estar distante de Deus e do conceito correto acerca dEle.
[2] Calvino, João. Comentário à Sagrada Escritura, exposição de Romanos; São Paulo – SP: Edições Paracletos, 1997. p. 67.
[3] MacArthur, John. Pense Biblicamente; recuperando a visão cristã de mundo; São Paulo – SP: Editora Hagnos, 2005. p. 25.
[4] Ryken, Leland. Santo no Mundo; São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013. p. 270.  
[5] MacArthur. p.223.
[6] Ibdem, p. 373.
[7] Comentário do capitulo XIX (DA LEI DE DEUS) seção VI e VII. Confissão de Fé Westminster comentada por A.A. Hodge; Editora Os Puritanos: 2010. p. 348.
[8] MacArthur. p. 384.

Resenha do livro: Temas Fundamentais da Educação Cristã.

                                                  Resenha                                                 Gilberto Loula Dourado Filho.

PAZMIÑO, Robert W. Temas Fundamentais da Educação Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.  
Robert W. Pazmiño é pastor batista e professor de Educação Religiosa. Serviu como Professor de Educação Cristã no Seminário Teológico Gordon-Conwell. Escreveu muitas obras, entre elas estão: Elementos Básicos do Ensino para Cristãos e Deus nosso Mestre, que também foram traduzidas e publicadas pela Editora Cultura Cristã.
Nesse livro, sobre a educação cristã, Pazmiño desenvolve um trabalho que tem como principio a promoção da genuína fé. Fazendo uma interligação com outras disciplinas acadêmicas para uma abordagem educacional adequada, entendendo sempre que toda a verdade é verdade de Deus, ele trata como fundamento essencial na educação cristã o entendimento de mundo e a construção de uma cosmovisão com base na Escritura. Para distinguir entre a pluralidade confusa das teorias educativas da sociedade contemporânea, a educação cristã tem como fundamento essencial a pratica educacional que seja dirigida pela Palavra enquanto o educador busca obediência a Cristo. Aprendendo com técnicas expostas na própria Escritura no Antigo e no Novo Testamento ele leva o leitor a enxergar que a revelação especial de Deus sempre teve papel central na educação. Deuteronômio 6 é usado como exemplo de como a educação era realizada no Antigo Testamento. Neste caso o agente educacional eram os pais primeiramente, eles levavam seus alunos a enxergar o mundo a partir da Escritura, a Lei do Senhor era incutida na cabeça deles com o proposito de relacionar esses mandamentos a toda à vida, esse princípio traz implicações para outros relacionamentos fora do lar. O objetivo na educação cristã é o mesmo, libertar o aluno no sentido de capacita-lo a tornar-se tudo aquilo que Deus planejou para ele como sua criatura, membro da comunidade da aliança.
            O principal fundamento da educação cristã, segundo o autor, é a autoridade bíblica. Ela é confiável e útil para a educação, sendo a base para que esta seja exercida de forma adequada. Portanto, a teologia que emana da Escritura é de suma importância na construção do pensamento cristão na educação, tendo como pilares a autoridade bíblica, a necessidade de conversão, a obra redentora de Cristo e a piedade pessoal. Sendo a Escritura autoridade em todas as áreas do pensamento e da pratica é normativa na estruturação da agenda educacional. Seguindo o modelo teológico, a educação deve ser exercida contemplando a aplicação da Palavra ao currículo escolar na necessidade de transformação através da conversão, da confiança na obra redentora de Cristo e do ser afetado por ela na vida pratica da comunidade. Sabendo, no entanto, que esse entendimento teológico não está dissociado da cultura, politica e sociedade, mas, as boas novas de Cristo devem ser vividas dentro de todo esse contexto e não somente crida. Todo o fundamento teológico na ortodoxia pode ser visto no credo apostólico. As doutrinas ali expressas trazem implicações diretas à educação. Quando se observa o destaque ao Deus criador e sustentador de tudo e a responsabilidade do homem, se entende a posição do homem na criação de Deus e sua responsabilidade no Seu mundo. A queda é a rebeldia da humanidade contra Deus, querendo agir como autônomo, o que traz como resultado sobre as responsabilidades de cada um, negando-as de muitas maneiras. O educador reformado reconhece a extensão do pecado e enfatiza as exigências do padrão divino e admoestações provenientes da rebeldia contra Deus, o que é resolvido na aliança da redenção, que fornece esperança para a humanidade na ação de Deus recriando e renovando a humanidade em Cristo. Algo de extrema importância destacado pelo autor é a necessidade de contextualizar a teologia a época atual sem, contudo, perder os essenciais bíblicos e teológicos da fé cristã. Apesar de contundentes criticas a teologia de Paulo Freire, o escritor reconhece diversos fatores recomendáveis em sua obra como, por exemplo, a contextualização da educação e da teologia tratando a situação histórica das pessoas.    
Toda a fundamentação educacional depende exclusivamente destes dois primeiros fundamentos, o fundamento bíblico e teológico. Contudo, isso não significa que nenhuma outra ciência possa contribuir na formação educacional. Partindo da ideia de que toda a verdade é verdade de Deus e que a Palavra é a verdade absoluta, Pazmiño trabalha outros fundamentos da educação sempre tendo o cuidado de ser dirigido pela Palavra e a partir dela entender os fundamentos da verdade sem que as verdades elencadas por elas contradigam a revelação especial de Deus.
Os outros fundamentos são colocados da seguinte maneira, o fundamento filosófico é, segundo o escritor, a formação de uma coleção de pressupostos que provêm os atos e os pensamentos. A filosofia é definida literalmente como o amor a sabedoria. O cristão sabe que em Cristo habita “o tesouro da sabedoria e do conhecimento”. Portanto, o desafio cristão é, a partir de Cristo, da Escritura, de Deus, compreender as questões do mundo entendendo-as através do relacionamento humano com o Deus criador e redentor para que exista uma educação verdadeiramente cristã. Para todos os ramos do conhecimento a Escritura tem uma palavra determinante e é a partir dela que os campos da filosofia devem ser compreendidos. Na metafisica, antropologia, ontologia, e cosmologia ela definirá o que se deve entender, pois do contrario, toda a educação estará comprometida. Enquanto a filosofia da educação tem sua centralidade na pessoa, no conteúdo e na sociedade, o educador cristão tem o grande desafio de trazer uma educação centrada em Deus, a sua abordagem deve ter como ponto de partida Deus, evitando assim o desequilíbrio e desenvolvendo uma combinação de todas essas ênfases.
O fundamento histórico é de grande importância, como destaca o livro, ele pode ser visto como um tutor para se viver melhor o futuro. Mudanças aconteceram em diversos campos da sociedade no decorrer da historia, olhando para elas é possível identificar ações efetivas e adapta-las a realidade atual. Existem aspectos na educação cristã que são imutáveis e devem reger a educação atual, contudo, existem erros que precisam nos ensinar e na dependência de Deus corrigi-los em busca do perdão. Os aspectos bíblicos de ensino que são vistos assim como no Antigo e no Novo Testamento devem ser preservados, mas, alguns pensamentos que se desenvolveram na oficialização do cristianismo em Constantino e principalmente na renascença devem ser abolidos, como por exemplo, a ideia do individualismo, retirando a centralidade de Deus e focando no homem e seu mundo. Na reforma, encontramos elementos históricos na educação que devem ser observados e preservados, a justificação pela fé, a salvação pessoal e o sacerdócio de todos os crentes que produziu uma nova visão para a educação cristã. Na reforma, o principal objetivo estava no ensino do individuo, na resposta pessoal a Deus, depois e cada vez mais para a sua contribuição dentro da sociedade a qual vivia como criatura especial de Deus.
O fundamento sociológico tem grande importância na estruturação da educação, pois, se conhecer a cultura em que o cristão e as outras pessoas estão inseridas para se transmitir a mensagem do Evangelho de forma aplicável a realidade atual é fundamental, e o papel de se investigar a cultura é da sociologia. É inevitável que existam diferenças dentro da cultura, contudo, o cristianismo traz unidade dentro da diversidade, a igreja tem um papel de grande impacto dentro da diversidade cultual, pois, dentro da igreja a diversidade é reunida em papeis que contribuem para um mesmo objetivo, a gloria de Deus. O educador cristão deve incorporar uma fé cristã que glorifique a Deus e que promova o Evangelho à realidade de mundo real. O seu papel é trazer o Evangelho para o mundo, o cristão precisa aplicar o Evangelho ao mundo e não ser alienado dele. O grande desafio do educador cristão é observar as teorias sociológicas, avalia-las e submete-las ao crivo das Escrituras. É evidenciado através das muitas correntes da sociologia educacional o grande impacto que a sociedade e a cultura trazem sobre a educação, o educador cristão, a luz do Evangelho precisa discernir dentro da cultura, da sociedade e até mesmo das muitas teorias educacionais aquilo que pode ser conservado, deve ser transformado ou simplesmente combatido.   
O fundamento psicológico, talvez seja o mais complexo na integração e formação de uma educação verdadeiramente cristã. O grande desafio de integrar a psicologia com a educação está no fato de descobrir uma ou um conjunto de teorias, das muitas que são destacadas pela própria, que ofereçam a melhor mistura para se trabalhar com as pessoas por toda a vida. O autor, usando o estudo do psicólogo cristão Lawrence Crabb, destaca quatro abordagens que podem ser usadas para essa integração. A primeira abordagem é diferenciada ou fragmentada, que defende o tratamento da pessoa dentro de perspectivas psicológicas em todas as áreas sem que a fé cristã seja afetada pelos fatores psicológicos, criando uma religião esquizofrênica. A segunda rejeita o pensamento psicológico e trata as pessoas dentro de uma formação religiosa sem serem tocadas por qualquer entendimento psicológico ou desenvolvimento humano, criando assim no individuo uma posição de heteronomia na vida, alienando e isolando a pessoa para se manter o controle religioso. A terceira abordagem é integrada, é uma abordagem totalmente psicológica da educação cristã, misturando os conceitos psicológicos e religiosos dando prioridade a psicologia. A quarta é uma abordagem integrada e direcionada, nela o educador busca possíveis interações com a psicologia levando em conta uma cosmovisão bíblica que tenha a autoridade final a Escritura. Conquanto, é preciso cuidado para não se submeter à cosmovisão a “autoridade” psicológica. Diante da grande confusão que a psicologia promove, o autor sugere um modelo que contemple a queda e a necessidade de recriação em Cristo, que é possível graças a Sua morte e ressurreição, proporcionando renovação e transformação em diversos pontos e dimensões da vida.         
Todas as definições que o autor apresenta tem em comum a ênfase no planejamento e sua implementação. Para que o currículo seja efetivo, ele precisa do conteúdo e da experiência cristã, tendo assim, potencial de transformação de vida. Esse potencial requer das pessoas a receptividade e atuação no querer aprender, buscando em Deus as instruções mediadas pelos professores humanos. Mesmo não havendo uma forma simples de misturar conteúdo e pratica, o autor nos mostra diretrizes que devem nortear o ensino cristão, para ele, o professor deve ser sensível as dimensões do conteúdo e a experiência particular de cada aluno. Adequar à sensibilidade e o conhecimento deixando implícitos a verdade e o amor. A verdade é o conteúdo da educação cristã, que deve ser comunicado efetivamente com amor, mantendo sempre essas duas virtudes em equilíbrio, pois a verdade sem amor se torna dura e o amor sem a verdade se torna frouxo.     
Entendendo que é pelo currículo que valores e compromissos se formam e passam a ser praticados. Para defini-lo adequadamente, nos é sugerido no livro perguntas básicas. As perguntas contemplam o conteúdo, o objetivo, o ambiente, a forma e o momento do ensino, o aluno e seu aprendizado e o principio que organiza as respostas. Pazmiño também oferece três metáforas de Herbert M. Kliebard, para a elaboração de um currículo. A metáfora da produção, que tem como ênfase o professor, a metáfora do crescimento com ênfase no aluno e a metáfora da peregrinação que integra mestre e aluno no relacionamento pessoal. Pode-se ver que não é uma tarefa fácil montar um currículo que venha a contemplar as necessidades do aluno e respeite o fundamento bíblico. É de suma importância se apreciar com sensibilidade o proposito, o conteúdo, a necessidade do aluno e do professor e estilos. Para o cristão o valor do ser cristão que envolvem atitudes, habilidades e comportamentos tem um papel determinante na educação do aluno.
O livro é de grande relevância para a introdução e desenvolvimento da educação cristã na contemporaneidade. No mundo que luta contra os absolutos e relativiza os temas fundamentais da vida para a convivência e desenvolvimento da sociedade, a Escritura é o pilar necessário para a construção de uma educação adequada. A interação com outras disciplinas é de grande valia pra o desenvolvimento curricular e pratico na formação do aluno. O que Pazmiño faz com grande sucesso é trazer todas as disciplinas para responder a autoridade bíblico com relação as suas teorias e métodos, aquilo que as ciências modernas não conseguem ser unanimes a Escritura define a verdade e o método a ser trabalhado. Grande livro, recomendável a todos que desejam ser educadores e desenvolvem o ministério de ensino nas igrejas e escolas.