sábado, 16 de maio de 2020

Contentamento descontente.


A carta aos filipenses tem como objetivo animar e instruir o povo daquela região a viver a alegria do cristianismo, independente das circunstâncias. Nela, o apostolo Paulo revela que havia compreendido o segrego do contentamento no Senhor. Fp 4.11: _porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação._
Mas, no trecho que meditaremos nesta manhã, ele afirma um descontentamento com a sua condição espiritual. Seria isso uma contradição na própria carta? É claro que não, o contentamento daquele homem estava em Deus, na Sua condução Soberana em toda e qualquer situação e o seu descontentamento estava em sua condição espiritual. Como Willian Barcley destaca: _Um descontentamento piedoso está presente no cristão contente._
Vejamos neste texto o que precisamos para viver o verdadeiro contentamento cristão:
1-Descontentamento.
A aparente contradição é dissipada ao compreendermos que nada pode satisfazer o verdadeiro cristão, senão a obediência e a perfeita comunhão com o Seu Deus _Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição._ Assim como o autor da carta, nenhum cristão autentico se conformará com um conhecimento superficial do seu Mestre e Senhor. Como o príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon, disse certa vez; _o estudo correto do eleito de Deus é Deus; o estudo apropriado ao cristão é a divindade. A mais alta ciência, a mais elevada especulação, a mais poderosa filosofia que possa prender a atenção de um filho de Deus é o nome, a natureza, a pessoa, a obra, as ações e a existência do grande Deus, a quem chama Pai._
É fato que já O conhecemos, mas ainda não O conhecemos como O conheceremos, em outra carta o apostolo afirma, 1Co 13.12: _Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido._
O segredo do verdadeiro contentamento é estar descontente, com o temos hoje de relacionamento, conhecimento e vida com Deus, desejando ardentemente superar isso para ter comunhão intima com Ele.
2-Direção.
Não é somente reconhecer que falta ainda toda uma trajetória para O conhecermos e desfrutarmos de comunhão intima com Ele. É preciso empreender todos os esforços nesta direção, é isso que a epistola revela ao destacar a atitude do apostolo. Não é simplesmente desejar, é fazer; _mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus._ O verbo, _prossigo_, indica uma ação!
Algo parecido acontece com o rei Davi no Salmo 27.4; _Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu templo._ Veja, ele não pede somente, ele afirma que iria buscar viver a realidade de estar em relacionamento com Deus.
Os esforços do escritor não estavam apenas em se manter firme na batalha, ele tinha como alvo, direção a perfeita comunhão.
O verdadeiro contentamento deve ser descontente com a situação atual, para viver a busca incessante pelo futuro ideal. 
Não se contente com aquilo que você já adquiriu do Senhor e no Senhor, a caminhada não acabou, levante-se neste dia entendendo que há muito para fazer na sua vida e por sua vida na caminhada proposta.

terça-feira, 31 de março de 2020

ENTENDENDO O VALOR DA PROVA.


Tg 1.2-8.

            Não existe um ser humano no mundo inteiro que não tenha vivido ou vive uma dificuldade na sua historia. As lutas, os sofrimentos fazem parte da nossa trajetória, foi o Senhor Jesus que afirmou em Jo 16.33 “No mundo, passais por aflições”. O grande diferencial é como nós enfrentamos e o quê as provas resultarão em nossas vidas.
            A carta de Tiago trabalha em torno de três temas repetidos e desenvolvidos no decurso do seu escopo. São eles; o sofrimento, a verdadeira sabedoria e a verdadeira fé e sua aplicação. É importante entender que os três temas estão interligados e nos fazem pensar sobre a nossa caminhada cristã. 
Vejam:
1-      O sofrimento nos é benéfico.
Essa afirmação nos choca num primeiro momento. Como algo que nos faz sofrer pode nos beneficiar? Não estamos defendendo aqui que o sofrimento em si é algo prazeroso, isso é chamado de masoquismo, destacado nos dicionários como atitude de retirar prazer ou gostar do seu sofrimento ou humilhação. Não é nesse sentido que o sofrimento nos abençoa.
Quando olhamos para Tg 1.2 nos chamando a considerar _por motivo de toda alegria o passardes por varias provações_, é realmente assustador se for considerado dentro de um aspecto humano e terreno. Mas, se olharmos para a seqüência do texto, veremos que a tribulação trará à vida do servo de Deus desenvolvimento na fé, os versos 3 e 4 informam que a provação da fé produz perseverança na caminhada para a perfeita integridade em Cristo.
2-      A verdadeira sabedoria vem do alto.
Não existe possibilidade de chegarmos a esse entendimento, de que o sofrimento nos beneficia, sem um entendimento adequado e espiritual. Esse entendimento é dado por Deus de uma forma sobrenatural pela ação do Espírito na Palavra e pela Palavra. Veja o verso 5, nele é destacado a necessidade e a fonte da verdadeira sabedoria. O homem precisa entender que necessita da verdadeira sabedoria e onde buscar tal sabedoria. Alguns versos posteriores, a Escritura afirma em Tg 3.15 que a ­_sabedoria desse mundo é terrena, animal e demoníaca._ Portanto, a verdadeira sabedoria vem do alto, de Deus, essa sabedoria é isenta de erros, pura, perfeita e geradora de vida, Tg 1.18 _ele nos gerou pela palavra da verdade_.
3-      A verdadeira fé é aplicável (v6-8).
A realidade do sofrimento como algo benéfico e o entendimento que vem do Senhor acerca dessas situações, está ligado a uma fé pratica. Existe uma ligação nestes três temas que é inseparável. É somente através da fé verdadeira, que tem seu fundamento na verdade de Deus, vindo do alto, que podemos entender as circunstâncias da vida como algo benéfico, na verdade, todas as circunstâncias da vida só são benéficas para aqueles que amam a Deus (Rm 8.28).
O texto se refere a uma fé não dividida, _ em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento._ O ser humano de mente dobre, está divido entre tentar acertar através da religião ou se realmente precisa de Deus para acertar. Não significa que o crente nunca terá duvidas, mas que ele não estará dividido dentro da sua visão e da sua busca pelo Senhor.
Portanto, não desmaiemos em meio aos sofrimentos dessa vida, eles nos servem de plataforma para chegarmos ao fim pelo qual fomos conquistados. É por meio dos sofrimentos que somos aperfeiçoados, confiando na sabedoria de Deus e vivendo a prática daquilo que temos aprendido, a fé aplicável.

sábado, 28 de março de 2020

Os médicos da alma, os puritanos e o aconselhamento bíblico!


Os puritanos viviam em função de Deus, a bíblia era o seu manual de regra e pratica. Foram os puritanos que desenvolveram o que se chama de movimento de aconselhamento bíblico, foram chamados de médicos da alma. Os pastores puritanos, conhecidos como médicos da alma, representam na historia da igreja “a primeira escola de aconselhamento bíblico”.[1] Contudo, para compreendermos o aconselhamento puritano precisamos entender como eles viam as Escrituras e como fundamentavam a sua visão sobre Deus, sobre o homem e sobre a vida.
A doutrina da inspiração das Escrituras era basilar e de vital importância para os puritanos. Eles criam que a Bíblia é inspirada por Deus e escrita por homens que tiveram seus conhecimentos e personalidades preservados, no entanto, supervisionados pelo Espírito Santo. Portanto, as Escrituras eram a Palavra de Deus autoritativa, eles entendiam que quando a Bíblia fala, Deus fala. E foi essa visão que determinou a caminhada dos puritanos na vida, na pregação e no aconselhamento. Descrevendo o pensamento que tinham com relação às Escrituras, Ken L. Sardes afirma;
Sua profunda convicção era de que a reverência para com Deus implicava em reverência para com as Escrituras, e servir a Deus significava obedecer às Escrituras. Para eles, portanto, não havia maior insulto ao criador que negligenciar Sua Palavra escrita: e de maneira contraria, não poderia haver ato de homenagem mais genuíno para com Deus que valorizá-La e atentar para o que ela diz.[2]
          Era o que a bíblia descrevia sobre o homem e suas necessidades que determinava a condução do aconselhamento bíblico, a Bíblia era suprema em tudo, inclusive na pratica do aconselhamento.[3] Podemos observar que a vida, a conduta, o culto e tudo mais na suas vidas eram dirigidos pela Bíblia, pois eles criam que Deus declara nas Escrituras tudo o que é preciso para se viver à vida de forma adequada. Podemos ver essa verdade expressa na Confissão de Fé de Westminster de forma clara;
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela.[4]

          Com relação à alma humana, o que era preciso saber estava nesta revelação: Deus criou o homem e sua alma, automaticamente conhecendo-a mais do que qualquer outro. Sendo assim, os conselheiros dessa época entendiam que o próprio Deus habilita aqueles que estão mais próximos a Ele, através do estudo da Palavra, a compreenderem melhor as necessidades da alma.
Deus, que criou a alma, e que morreu para redimir a alma, sabe melhor como tratar a alma. E aqueles homens que estão mais familiarizados com Deus são mais capazes de proporcionar cura para a alma. De fato, os Puritanos eram chamados “médicos da alma.” Thomas Watson escreveu um tratado intitulado “Pecado é uma Doença da Alma. Cristo é um Médico da Alma”, o qual está contido em The Sermons of Thomas Watson.[5] 

          O homem era corrompido na visão dos puritanos. O homem está separado do seu criador pelo pecado, e este é o seu grande problema, em Adão todos os homens se tornaram voluntariamente pecadores e separados de Deus. Não existi solução para o homem que não seja à volta, o retorno a esse Deus que o criou e sabe das suas necessidades. O Dr. Joel Beeke descrevendo a visão puritana sobre a necessidade do homem, escreve:
Deus é santo e separado de todo pecado, os pecadores não podem se aproximar dele sem um sacrifício santo. Ele não pode ser “o Santo” e permanecer indiferente ao pecado; pelo contrario, ele tem que punir o pecado. Visto que todos os homens são pecadores devido à queda trágica de Adão e as transgressões diárias, eles não podem por seus próprios esforços propiciar a Deus.[6]
          Na providência de Deus, o resgate foi efetuado em Cristo. Deus, que não poderia deixar o pecado impune, sacrificou seu Filho para remissão de pecados e efetuou o resgate de muitos. Para descrever essa verdade defendida pelos puritanos, Beeke cita a Ordem Holandesa Reformada da Ceia do Senhor que afirma; A ira de Deus contra o pecado é tão grande, que (em vez de o pecado ficar impune) Ele teve que puni-lo em seu Filho amado, Jesus Cristo, com a desprezível e dolorosa morte de cruz.[7] A justificação é a solução para os pecadores que estão mostos em seus delitos e pecados. Na visão puritana, a natureza humana estava completamente deformada, constitucionalmente caracterizada por inclinação ao mal.[8] Não havia outra solução para o homem que não fosse à intervenção de Deus através da regeneração.  
          Contudo, mesmo após a conversão, que tinha um significado de grande importância na mudança do homem e na sua cura, pois:
O puritanismo concentrava-se no ponto importante do estado da alma da pessoa. Quando uma alma é verdadeiramente unida a Cristo cada parte da pessoa – pensamentos, palavras e ações – estará sujeita a Palavra de Deus.[9]   
          Porém, mesmo diante de tal transformação, onde após a conversão o homem se submetia a Palavra de Deus, eles não acreditavam no coração corrompido do homem. E deveriam estar atentos para que não fossem enganados por ele.
Conhecendo também a desonestidade e a falsidade dos corações humanos decaídos, cultivavam humildade e auto-suspeita como atitudes constantes, examinando-se regularmente em busca dos pontos ocultos e males internos furtivos.[10] 

          O aconselhamento bíblico era fundamentado única e exclusivamente na Escritura. Como vimos acima, o entendimento de todas as coisas concernentes a vida terrena e espiritual era advinda das Escrituras. O homem era escravo do pecado, adorador de si mesmo, da criatura ao invés do Criador, e para solucionar esse problema era necessário a intervenção de Deus, pela Sua graça transformadora. Somente a graça é capaz de controlar uma vontade revoltada. As pessoas são depravadas, não porque têm uma vontade, mas porque possuem uma vontade que prefere o mal.[11]
          Por isso, era necessária a regeneração. O homem que havia se distanciado da ordem da criação, do seu Criador e buscava solução para seus problemas em si mesmos ou em circunstancias criadas por ele mesmo, precisava retornar a visão correta de Deus e do seu papel no mundo criado por Deus. A regeneração era a obra de providencia de Deus, na vida do homem, necessária para a sua verdadeira compreensão do mundo, de si mesmo e conseqüentemente, a sua felicidade dependia da regeneração.
Trata-se de uma redução da criatura revoltada à sua ordem verdadeira e feliz; portanto, os cristãos são criados em Cristo para boas obras. Entretanto, sem a transformação radial da natureza, o individuo permanece em sua idolatria.[12] 
          Para os puritanos o homem não conseguia raciocinar de forma adequada sem a regeneração.
Antes de ser alcançado pala graça, uma pessoa é caída e corrompida. Não vive racionalmente, pois não age de acordo com a verdade que, supõe-se, a mente assimila. Não vive com sensibilidade, pois sua vontade é guiada por sentimentos irracionais, e não pela verdade conhecida. A sua natureza moral foi distorcida; ela é essencialmente egocêntrica.[13] 
          O grande problema do homem na visão deles era o pecado, o pecado é o transferir da adoração a Deus para a adoração ao eu.[14] Foi e é o pecado que promove a separação do homem para com Deus. Por isso o pecado era tratado com muita seriedade. A natureza humana, por estar deformada, precisava da intervenção de Deus regenerando-a, mas, o problema não estava solucionado.
Mesmo depois da regeneração, o crente permanece um ser caído e desordenado devido às suas lutas constantes com sua velha natureza e com o pecado. Boston resumiu isso bem, dizendo: “Embora todo o homem seja santificado, nenhuma parte do homem é perfeitamente santificada nesta vida. Não é meia-noite para eles, como o é para o não-regenerado, nem meio-dia, como o é para os glorificados, e sim o crepúsculo, que é uma mistura de luz e trevas. Disso surge o combate entre a carne e o Espírito”.[15]
          É justamente nesse intervalo de tempo, entre a regeneração e a glorificação, chamado de santificação, que os puritanos praticavam o aconselhamento. A obra de Deus era indispensável para que o aconselhamento existisse, pois, o aconselhamento partia do entendimento de que a pessoa aconselhada havia se voltado para Deus e conseguia raciocinar de forma adequada, entendendo a verdade de Deus para sua vida. A partir dessa realidade o homem era confrontado, exortado a conformar a sua vida a realidade de Cristo. O aconselhamento era um meio que os pastores usavam para auxiliar suas ovelhas na santificação. Sendo esta, o tema prioritário nos puritanos.
O tema da santificação estava sempre em perspectiva. Quando os puritanos lidavam com a segurança da salvação, enfatizavam o que a pergunta 36 do breve Catecismo de Westminster também enfatiza: não podemos ter esperança de que o Espírito de Deus nos dará certeza jubilosa, se não estamos labutando dia a dia para viver uma vida santa. “Santidade ao Senhor” era o lema puritano para cada aspecto da vida, como era também o lema para cada aspecto da vida em comunidade.[16]
   
          A luta contra o pecado e contra a natureza pecaminosa é o combate de todo cristão, e os puritanos viviam essa luta com intensidade. Eles eram rigorosos na aplicação dos meios de graça na busca pela santidade. Acreditavam que Deus determinou alguns meios de graça para que a santificação alcançasse êxito de forma eficaz, eram diligentes na aplicação dessas disciplinas. Joel Beeke classifica essa disciplina espiritual dos puritanos em quatro grupos; particulares, familiares, coletivos e comunitários.[17] Em todas essas disciplinas, é notório a realidade de seu fundamento nas Escrituras. Cada uma dessas disciplinas é bíblica e pode ser usada de modo singular pelo Espírito Santo para promover a santidade nos crestes.[18] Essa luta e preocupação com o pecado e a natureza pecaminosa norteava o aconselhamento puritano.
Grande parte do aconselhamento puritano concentrava-se no problema do pecado por causa de sua extensão penetrante, seu caráter enganador e sua natureza pervertida. Reconhecendo o engano residente em cada coração, os conselheiros puritanos sabiam que aquilo que as pessoas menos queriam ouvir era o que elas mais precisavam ouvir, por conseguinte, a solução que os pastores puritanos ofereceram aos dilemas criados pelo domínio do pecado foi o principio da mortificação.[19]  
          O principio de mortificação era encontrado no processo de santificação, a mortificação era o matar as obras do corpo. Mortificar significa tirar toda força, o vigor e o poder do pecado, de modo que ele não possa agir por conta própria ou se impor na vida do crente.[20]
          Percebemos que toda a direção desses conselheiros estava atrelada a Escritura. A conversão (que é a união a Cristo) que é efetuado por Deus através da Sua Palavra e torna o homem sujeito a própria Palavra segundo o pensamento deles, deveria ser acompanhada pelo tratamento da Palavra. A Bíblia determinava todo o pensamento dos puritanos, com relação ao homem e suas necessidades, tudo era encontrado e buscado nas Escrituras. Existia verdadeira coerência entre o que eles acreditavam e aquilo que viviam. Visto que a Bíblia era a autoridade de Deus na terra, para dirigir o homem em todos os seus caminhos e decisões, eles realmente se curvavam para a voz de Deus.
Já que a Palavra de Deus consiste das próprias palavras de Deus, sua autoridade é exaustiva, estendendo-se por toda a área da fé e da pratica, incluindo tudo o que é necessário para a vida e a piedade.[21]

          Eles lhe atribuíam reverencia e obediência por ser a palavra de Deus autoritativa na terra para todas as questões.  
Para os puritanos, limitar a autoridade da Bíblia a questões religiosas violaria o principio de que toda a vida é religiosa. Quando os puritanos falavam da autoridade da Bíblia, davam-lhe longo alcance em vez de limitá-la a assuntos relativos à salvação. “não há uma condição em que possa cair um filho de Deus, para a qual não uma direção e uma regra na Palavra, em alguma medida apropriada.” escreveu Thomas Gouge.[22] 
          A vida deveria ser dirigida e direcionada por Deus através de Sua Palavra. Nenhum aspecto da vida era deixado de ser interpretado a luz das Escrituras. Eles citavam textos de prova e modelos bíblicos para quase todo tópico – economia, governo, família, igreja, vida, sexo, natureza, educação e muitos outros.[23] Diante dessa visão com relação à vida, é fácil entendermos por que o aconselhamento puritano era totalmente dirigido pela Bíblia. Conforme Richard Sibbes declarou; Não há qualquer coisa ou qualquer condição que aconteça ao cristão nesta vida sem que exista uma regra geral na Bíblia para tal, e essa regra é estimulada por meio do exemplo.[24] A Escritura era o fundamento pelo qual eles liam todo o mundo a sua volta, era Ela que determinava o que deveriam pensar, fazer e viver. Nenhuma autoridade externa tinha domínio sobre suas vidas, Deus falava nas Escrituras e isso era o bastante para eles. Quando reivindicavam a Escritura como a única autoridade final, é claro, rejeitavam as outras opções.[25] É importante ressaltar que os puritanos acreditavam na suficiência das Escrituras até mesmo na sua interpretação, eles criam que a Escritura é auto interpretativa, só se pode entender a Escritura pela Escritura. Isso demonstra o respeito que tinham e o temor ao interpretar as palavras de Deus. O apreço, o respeito, o temor, a responsabilidade na interpretação era derivado do entendimento que tinham da autoridade das Escrituras e isso trazia implicações diretas para todos os setores da vida, inclusive no aconselhamento.
William Ames afirmou: “As Escrituras não precisam de nenhuma explicação proveniente de luz exterior, especialmente quanto às coisas necessárias. Elas se auto-iluminam, e cabe ao homem ser diligente nessa descoberta”. Essa importante declaração revela a recusa do puritano em introduzir teorias psicológicas estranhas em sua interpretação do texto. A Bíblia era vista como fonte de toda direção, instrução, consolo, exortação e encorajamento divinos. O resultado disso foi um método de aconselhamento centrado nas Escrituras, em lugar de uma teoria carregada.[26] 
          
          Portanto, o aconselhamento era um veiculo usado pelos puritanos para auxiliar os crentes a se conformarem a imagem de Cristo, na ação do Espírito através da Palavra de Deus. Eles não estavam preocupados em entender o homem fora da realidade da Bíblia. Eles realmente estavam preocupados com a cura da alma das pessoas, mas o único veículo eficiente nessa cura era a palavra de Deus e a ação do Espírito através da mesma.
Os puritanos costumavam falar de cura de almas. Eles criam que com a Bíblia, adequadamente aplicada, uma pessoa poderia conduzir uma outra pessoa, com sucesso, ao longo do processo de santificação, de um modo que agradasse a Deus e que trouxesse paz à alma.[27] 
      
          Eles desenvolveram um sistema de aconselhamento forte e fundamentado na Escritura, diagnosticaram problemas e trataram pessoas com os mais diversos tipos de dificuldades.
Os puritanos desenvolveram maciça e profunda literatura sobre o largo espectro de problemas pessoas e pastorais. Escreveram sobre numerosos e detalhados casos de estudo. Tiveram um sistema sofisticado de diagnostico que penetravam nos motivos. Tiveram uma visão bem desenvolvida do processo a longo prazo, das tensões, das dificuldades e das lutas da vida cristã. Trataram cuidadosamente de temas uqe o século XX chamaria de dependência do sexo, comida ou álcool; a gama de problemas nos relacionamentos interpessoais do casamento e da família; depressão, ansiedade e ira; perfeccionismo e a tendência de agradar a outros; conflitos interpessoais; prioridades e gerencias do tempo e dinheiro; descrença e desvios do sistema de valores.[28]

          Os puritanos eram fortes e bem sucedidos no aconselhamento porque tinham uma ferramenta poderosa no tratamento da alma humana, a Escritura Sagrada. Contudo, toda essa força de alguma forma foi influenciada pela visão secular do aconselhamento nos anos subsequentes.



[1] MACARTHUR, John F.. Introdução ao aconselhamento bíblico: Um guia básico dos princípios e pratica de aconselhamento: Editora Hagnos; São Paulo-SP: 2004. p. 41.
[2] ibid. p. 43.
[3] ibid.
[4] Confissão de Fé de Westminster, cap. I. VI. Primeira parte da seção. 
[5] Rev. Don Kistler. Por que ler os puritanos hoje? Publicado pela Soli Deo Gloria Publications, Morgan, PA, 1999. p. 7
[6] BEEKE. Joel R.. Vivendo para a Glória de Deus, uma introdução a fé reformada: Editora Fiel; São José dos Campos-SP: 2010. p. 210.
[7] ibd.
[8] MacARTHUR, John F.. op cit, p. 53.
[9] HULSE, Erroll. Quem foram os Puritanos? E que eles ensinaram?: Editora PES; São Paulo-SP: 2004. p. 19
[10] PACKER, James I.. Entre os Gigantes de Deus, Uma visão puritana da vida cristã: Editora Fiel; São José dos Campos-SP: 1996. pp. 20,21.
[11] MACARTHUR, John F. op cit, p. 56.
[12] ibid. p. 54.
[13] BEEKE. Joel R.. op cit, pp. 216, 217.
[14] MACARTHUR, John F. op cit, p. 54.
[15] BEEKE. Joel R.. op cit, p. 217.
[16] Ibid. p. 214.
[17] Ibid. p. 223.
[18] Ibid.
[19] MACARTHUR, John F. op cit, p. 57.
[20] Ibid.
[21] Ibid. 45.
[22] RIKEN, Leland. Santos no Mundo: 2. Ed. - São Jose dos Campos, SP; Editora Fiel, 2113. p. 242.
[23] Ibid. p. 243.
[24] MACARTHUR, John F. op cit, p. 45.
[25] RIKEN, Leland. op cit, p. 238.
[26] MACARTHUR, John F. op cit, p. 44.
[27] EYRICH, Howard A. e Hines, William. Cura para o coração. Editora Cultura Cristã; São Paulo- SP: 2007. p. 13.
[28] POWLISON, David. Integração ou inundação. Religião de Poder. A igreja sem fidelidade bíblica e sem credibilidade no mundo. Editor: Michael S. Horton. Editora Cultura Cristã; São Paulo- SP: 1998. p. 165.

Nossa luta diária.

Mt 6.34.
Quero retornar hoje a um tema que discorremos um dia desses, a ansiedade. Nos dias de isolamento social somos tentados a cairmos no erro da ansiedade, não estou dizendo de uma preocupação com o que vai acontecer nos dias vindouros pós pandemia, mas de um sentimento pecaminoso que nos faz soar frio, ter taquicardia, perder o sono, chorar, ter pavor do futuro, onde a angustia e a insegurança tomam conta da mente que a sensação de desgraça eminente provoca as reações citadas anteriormente.
Evidente que temos que poupar energia, recursos e termos um sentido de provisão para o futuro, contudo o futuro não pode tomar o lugar do presente e sugar todas as minhas energias ao ponto de não tê-las para o dia de hoje.
Depois de expor o que realmente deve ocupar a nossa mente e que devemos confiar no Deus da provisão, deixando claro que devemos recorrer a providencia do Senhor e no seu caráter paterno para vivermos bem o presente. O Senhor Jesus nos instrui com relação ao futuro. Ele nos ensina:
1- Vivamos o presente. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã., a preocupação exacerbada com o futura é pecaminosa. O Senhor nos chama a não nos inquietarmos com o amanhã. John MacArthur, no livro Abaixo a Ansiedade, escreve; A provisão para o amanhã é boa, mas a ansiedade pelo que está por vir é pecado, porque Deus é o Senhor do amanhã, assim como o é do hoje.
O Senhor nos conduziu até aqui, então vivamos o que o Senhor fez. No Sl 118.24 o Senhor nos chama a nos alegrarmos no dia que Ele fez. Recebemos a dadiva da preservação, as misericórdias do Senhor se renovaram, vivamos a alegria daquilo que o Senhor fez. 
2- O Senhor cuida do futuro. porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.
Se o Senhor nos trouxe até aqui, não temos que duvidar daquilo que Ele fará. Ele nos deu a vitória, somos mais do que vencedores, o que a morte pode fazer pela gente é nos entregar nos braços de Cristo. O Senhor garantiu o nosso futuro, quando a Escritura revela a ação do Senhor em Rm 8.30, todos os verbos estão no presente, pois o futura nas mãos do Senhor é presente. Veja bem, acreditar que Deus providencia a nossa salvação, que fomos livres do império das trevas, do inferno e que Ele não providenciará aquilo que necessitamos amanhã é incoerente.
Podemos confiar naquele que agiu no passado em favor do seu povo, e de nós também! Quantas vezes o Senhor agiu em nosso favor em meio a grandes lutas?
Não sabemos do dia de amanhã, não sabemos se Cristo voltará ou se ainda estaremos vivos. Mas uma certeza temos, Ele tem cuidado de nós e já garantiu o êxito da nossa caminhada. Então, deixe o futuro com Deus.
3- A nosso luta é hoje. Basta a cada dia o seu mal.
O Senhor não nos chama a lutar pelo dia de amanhã, no sentido de sofrermos pelo dia de manhã quando ele ainda nem existe, pelo menos em nosso plano. MacArthur afirma: Não nos concentremos no futuro, privando-nos da alegria presente por causa do amanhã. O hoje é tudo que realmente possuímos, pois Deus não permite que nenhum de nós viva o amanhã até que ele aconteça.
Portanto, a nossa luta é hoje, lutemos para a gloria de Deus no dia de hoje. Se concentre no Senhor hoje, Ele deve ser sua prioridade hoje e amanhã se acontecer também, mas o foco é o hoje, tudo que lhe viver a mão, faça como se fosse para o Senhor!
Rev. Gilberto Loula Dourado Filho.

O que nos dirige?

Texto: Sl 119.105
Todos são dirigidos por algo, seja um sonho, um objetivo ou uma paixão.
Martin Luther King. Dizia: Quem não tem uma causa pela qual morrer não tem motivo para viver.
Essa frase expressa muito bem a verdade de que todos tem um ideal pelo qual vive, e se esse ideal não estiver bem definido em sua mente, ele não sabe ao certo para o que vive.
Talvez você nunca tenha parado pra pensar sobre isso, mas se eu te perguntasse: pelo que você vive, para que você vive. O que você me responderia?
Muitos se conformam com uma ideia pequena da vida, estão tão presos na mesmice e se acomodam com a ideia de que “eu trabalho pra comer e como pra trabalhar” não assumindo nenhuma causa pela qual deve viver.
O texto vem nos orientar justamente sobre isso, ele nos informa que a Palavra de Deus ilumina a nossa compreensão acerca de tudo que precisamos saber sobre o que é necessário para viver e progredir nessa vida, qual o objetivo da nossa existência.
O maior trecho das Escrituras é o Salmo 119, todo ele é dedicado a enaltecer e promover a eficácia, suficiência e majestade da Palavra de Deus.
É nEla que encontramos o proposito ideal pelo qual devemos viver, nEla encontramos histórias de muitos homens que entregaram a sua vida por uma causa.
Ela é suficiente para nos informar aquilo que precisamos saber para vivermos uma vida alicerçada.
Ela é o alicerce da vida humana. Ela nos mostra claramente o que precisamos saber para viver de forma adequada nesse mundo e no vindouro.
Podemos olhar para esse verso e entender duas verdades sobre a Escritura que são imprescindíveis no fundamento da nossa vida.
1- A Escritura é a Luz que ilumina nossa salvação.
Veja que em primeiro lugar o texto nos informa que a Escritura é lâmpada que ilumina os nossos passos. Ela é Lâmpada para os meus pés, a ideia aqui é de uma lâmpada que ilumina perto, enquanto a Luz ilumina mais distante.
Veja, em primeiro lugar precisamos entender a Escritura como aquela que nos insere no caminho.
A vida cristã começa com a Palavra, é nela que descubro que sou pecador e preciso de um salvador.
2- A Escritura é a luz que ilumina nossa peregrinação.
A salvação não é apenas o início, ela não acaba na conversão. A perseverança é um aspecto da salvação que não pode deixar de ser destacado aqui. Mt 24:13. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.
A lâmpada serve para iluminar os meus passos constantemente e diariamente, mas eu também preciso olhar o caminho, eu não posso olhar simplesmente para baixo, eu preciso enxergar a direção o caminho.
Veja que é na escritura que encontro Cristo e nEla continuo a ser tratado por Ele até o grande dia, Ela ilumina meus pés e dá norte a minha jornada.
                                                                                                       Rev. Gilberto Loula Dourado Filho.

Força pra vencer.

Muitas vezes na vida nos afligimos que chegamos ao ponto de pensar em desistir. São problemas no coração, em casa, fora de casa, no trabalha, na escola, nos planos, na estratégia que traçamos para a vida. São muitas as dificuldades, desilusões, perseguições, as vezes pensamos que ninguém nos entende. Falamos com as pessoas da nossa situação e elas não conseguem entender a dimensão dos nossos dilemas e sofrimentos.
Me parece que o salmista relata uma dificuldade como essa em sua vida! Algo foi imposto a vida dele que lhe trouxe grande humilhação, pois a conjugação do verbo no nifal traz o sentido passivo, ou seja, não foi algo realizado ou projetado por ele que o aflingia, mas, circunstâncias que fugiam ao seu controle. O seu coração está angustiado por causa de algo que lhe impuseram, não sabemos se uma palavra, uma ofensa, um castigo, uma injustiça, o que sabemos é que ele está numa situação que precisa ser restaurado para poder caminhar, esse é o sentido do seu clamor “vivfica-me”.
Essa é justamente a primeira atitude que precisamos ter para nos fortalecer pra vencer; admitir que não temos força e precisamos de ajuda.
O salmista clamou e buscou ajuda naquele que poderia resolver o seu problema, ele clamou ao Senhor para agir em seu favor. Ele conhece aquele que lhe pode ajudar e o meio que Ele usará para o seu auxilio. Isso seu clamor: “vivifica-me segundo a Sua Palavra”.
Segundo a Sua Palavra, me leva a pensar em três sentidos reais dessa verdade.
1- A palavra escrita.
Sl 19.7. A Escritura é o meio pela qual somos alcançados e transformados. Ela nos santifica e nos trata segundo a vontade do Senhor, pois é sua vontade recelada. Ela é perfeita e restaura a alma. O coração aflito e desesperado é tratado e reconduzido ao Senhor por intermédio dEla na ação do Espirito.
2- A Palavra encarnada.
Jo 1.1,17. Cristo é a Palavra encarnada, Ele é a personificação da Lei. Somente Ele a obedeceu perfeitamente, nos imputando a sua obediência, somos aceitos por Deus não somente pela morte de Cristo, mas também pela sua vida.
3- A igreja que é o corpo de Cristo e vive a Palavra. 1Co 12.27; Jo 15.9,10.
 Cristo é o cabeça da igreja que a amou de tal forma que deu sua vida por ela, em resposta a esse amor, essa igreja se submete a Ele entendendo que as suas ordens são o melhor e a própria demonstração do Seu Amor.
Portanto, reconheçamos que precisamos de ajuda pra vencer nossas dificuldades e encontremos ajuda no Senhor que se revela em Sua Palavra, nos mostrando Cristo e nos fazendo Sua igreja.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Analise do artigo de Mauro Meister, COSMOVISÃO: DO CONCEITO À PRÁTICA NA ESCOLA CRISTÃ.

Mauro Meister graduou-se pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary, nos EUA, e doutorado (Ph.D) em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. Foi professor de Antigo Testamento no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, em São Paulo e na Escola Superior de Teologia (Mackenzie), atua hoje como diretor do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper. Neste artigo, ele defende a aplicação da cosmovisão bíblica a pedagogia do educador, a missão da escola e no currículo escolar. Segundo ele, a visão de mundo passada pela Escritura é teo-referente e aplicável a todas as pessoas, culturas e todas as épocas.
Meister se preocupa em definir o significado de cosmovisão como; o compromisso fundamental do coração fundamentado em pressuposições básicas da realidade que provê o fundamento do viver e do agir do homem. Portanto, a cosmovisão determina todo o entendimento que um individuo tem com relação à ciência e a educação, que não são neutras. Todos os educadores são motivados por essas razões fundamentais do coração que os dirige. O educador cristão deve ter uma cosmovisão bíblica, pois, segundo a própria Escritura, Ela é útil para o ensino, para a correção, para repreensão e educação na justiça (2Tm 3.16). A Bíblia não afirma em nenhum momento que o seu ensino está restrito apenas ao campo religioso, pelo contrario, como a continuação do texto onde o versículo acima citado está inserido afirma, Ela é proveitosa para a instrução do homem com o objetivo de torná-lo apto para toda boa obra. Portanto, para o educador cristão é preciso consciência e coerência na aplicação da cosmovisão bíblica a educação.
Esse é o grande desafio do educador cristão, pois toda a estrutura de aprendizado que recebeu foi humanista e construtivista. Mas, como cristão ele precisa implantar uma cosmovisão que emana da Bíblia e não do pensamento onde o homem é autônomo na construção do seu conhecimento. E para se implantar uma cosmovisão bíblica solida, Meister avalia algumas áreas essenciais para que essa implantação aconteça. Segundo ele, só haverá um conteúdo de real relevância quando o pedagogo cristão aplicar sua cosmovisão no currículo e no ambiente escolar. A visão bíblica de ensino tem como prioridade o amor a Deus, esse é o primeiro e grande mandamento, portanto, a missão da escola cristã é instruir os seus alunos dentro dessa perspectiva. A excelência da educação deve estar firmada em uma educação teísta e teo-referente, tendo como fundamento a existência de um Deus criador e redentor, o qual deve ser ouvido atentamente em sua revelação nas Escrituras, na criação e na providencia.
A própria legislação brasileira, no que se refere à educação, reconhece a existência de comunidades que pensam a educação de maneira própria, de acordo com sua cosmovisão. Isso é o que o artigo 20. III da Lei de Diretriz e Base da Educação Nacional rege.                   
Portanto, a escola cristã precisa ter o seu próprio currículo. Mas para que isso aconteça, a escola necessita observar a sua missão, pois o currículo é nada mais que a missão pratica. É evidente que não se encontra nas Escrituras um currículo pronto, contudo, os princípios de sabedoria necessários para o desenvolvimento do mandato cultural são encontrados na mesma. Foi justamente essa visão de mundo cristão que permitiu que os primeiros passos da ciência moderna fossem dados.
Como o conhecimento depende da revelação geral (criação) e especifica (Escritura), o currículo deve contemplar a unificação e a interação dessas fontes produzindo assim no aluno a capacidade de ver o mundo com as lentes bíblicas. No entanto, é preciso ter muito cuidado para não incorrer no erro de se criar um currículo paralelo, separado do conhecimento bíblico, achando ser um tipo de integração, Meister nos traz uma lista produzida por Marta Franco Dias para evitar esse dualismo que cria uma ilusão de integração.
(1) o uso de analogias, metáforas e alegorias bíblicas relacionadas ao conteúdo de uma disciplina – se queremos desenvolver uma cosmovisão bíblica, precisamos começar por respeitar as Escrituras e fazer uma leitura consciente de seu conteúdo, usando todas as regras acadêmicas de interpretação bíblica, a qual é também uma ciência; (2) enfatizar os elementos externos sem a devida preocupação de que isto seja realmente proveitoso na formação da visão de mundo dos alunos, como contratar somente professores cristãos sem que os mesmos sejam testados nas suas habilidades acadêmicas e de integração bíblica; (3) a negação e exclusão imediata de tudo que é não bíblico, como, por exemplo, não estudar a evolução darwinista porque contradiz nossos pressupostos bíblicos; (4) embora o ensino do caráter seja fundamental para a escola cristã, ensinar traços de caráter por si só não é integração bíblica; (5) evangelização não é integração bíblica; (6) também a personificação – por exemplo, ter a vida de Jesus como modelo – não é integração e (7) escolher uma série de princípios e desenvolvê-los durante o ano escolar também não é integração.      
Não é a ilusão de uma integração que produzirá o real conhecimento de mundo na mente do aluno, mas a confiança do professor na verdade que emana da Escritura aplicada ao mundo que é passada para o aluno, o professor  precisa ser cristão e ter uma cosmovisão cristã (bíblica). Todo o processo de implantação da cosmovisão bíblica ao ensino é de extrema importância e para que isso seja real nas nossas escolas é preciso que as igrejas comessem a entender que a educação deve ter como fundamento a Escritura. Vivemos dias onde existe uma dicotomia no que se refere igreja e mundo, educação religiosa e secular. Mauro aplica de maneira valiosa a questão de que o ensino bíblico não está restrito apenas ao ensino religioso, a Escritura é a verdade suprema e aplicável a todas as áreas da humanidade, por isso, a igreja não deve se acanhar em promover a educação com base na Escritura e formar uma nova geração fundamentada nesta realidade. Quando afirmamos que a igreja deve intender o seu papel nessa situação, estamos elencando o papel da igreja na formação dos cristãos, que são os educadores que lecionam nas escolas.
Por mais que os professores tenham recebido uma educação humanista e construtivista, o verdadeiro cristão é regenerado a partir da Verdade e essa Verdade é o fundamento de toda a sua construção de mundo, ele depende dEla para todas as suas compreensões de si mesmo, do mundo a sua volta e do próprio Deus. A cosmovisão do autentico cristão é alicerçada na ação do Espirito pela Palavra e na Palavra, consequentemente, não será uma dificuldade para esse cristão deixar seus conhecimentos adquiridos ou aproveitar e adapta-los, aquilo que puder a realidade bíblica. Então, a partir daí começar a propagar o verdadeiro conhecimento de mundo num mundo que carece de conhecimento autentico.
O que falta muitas vezes na vida desses professores é a convicção no que realmente creem e a falta de motivação pelo estudo adequado das verdades. Acomodam-se naquilo que lhes foi passado e não buscam na Escritura, que deve ser a autoridade final sobre questões elementares da vida humana, a resposta final em todos assuntos. O que leva esses professores a viverem essa acomodação é uma ordem de fatores que podem ser até mesmo compreendido. A pressão que esses profissionais vivem é algo fora do comum, a carga horaria de trabalho para se ter um salario adequado é desumana, além do constrangimento em se defender diante da pedagogia moderna com relação ao método e os pressupostos que influenciam e determinam seu ensino, pois vivemos um momento delicado no que se refere ao cristianismo no mundo moderno. Professores que são mal formados, sem uma base solida e com grandes duvidas na área educacional se curvam a autoridade da pedagogia moderna, é justamente ai que a igreja deve entrar. Infelizmente a realidade das igrejas hoje mostra um total descaso com a instrução e a preparação dos seus membros nas doutrinas elementares e na construção de um pensamento teológico solido. Se a partir das igrejas houver um encorajamento e uma dedicação para instruir os seus membros e mostra-los que a Escritura não é apenas um amuleto, ou um livro que deve ser aberto no domingo ou em momentos “espirituais” do dia a dia para serem abençoados, mas, que a Escritura é o fundamento pelo qual o mundo deve ser visto e interpretado as mudanças dentro da educação cristã serão visíveis.   

Não existe outra maneira de se implantar essa cosmovisão bíblica dentro das instituições cristã que não passe pela educação da igreja aos seus membros. Tudo que Mauro Meister escreveu nesse artigo é de grande importância e deve ser discutido e implantado na vida de cada educador cristão. Mas antes de ser um educador cristão, ele é um membro da igreja de Cristo e é justamente por isso que tudo começa na igreja. A construção de uma cosmovisão bíblica é papel da igreja na vida de seus membros, posteriormente, o pensamento verdadeiro e bíblico de mundo pode e deve ser passado para o mundo, porém, se o educador cristão se mostrar inseguro com relação ao que realmente crer será engolido pelo modelo atual de educação.